sexta-feira, 5 de junho de 2015

INSINUAÇÃO [Webston Moura]


Tempus fugit. (Acrílico sobre lienzo. 1992) - Ángel Hernansáez

Boa ventura – Abrir a carta, de pouco em pouco, que seu engenho é delicado. Saber-lhe o íntimo. Alguém. Sua letra, frases e períodos, seus assuntos ― lê-los em silêncio. Abrir a luz por sobre os signos e, adentro e sempre mais, percurso a seguir, penetrar-lhe os sentimentos que, distantes em geografia, estão no instante de meus olhos, perto. No interior do envelope, uma armadilha de cápsula que, descoberta, liberta-se: o perfume de um cravo gravado numa pétala de seda (seria um camafeu?), magia a que fora submetido quando de seu artesanal fabrico. Coisa de quem (com destreza imensa em finas artes) achou de me enviar: a moça da cidade de um verão passado. Acaso, mas, no dizer melhor, talvez Laís, que, ventura outra, sorri-me. O perfume recende em cada palavra gravada na carta, letra viva. A mensagem, súmula de olhares, insinuação, lábios que relembro, parece uma cidade.

____________________
MENSAGEM NA GARRAFAFechar os olhos. Um prado marinho, um planeta  (sua errância), as Cartas de Zener, um cinturão de asteroides, o sabor singular da saliva alheia, passifloras, saguaros, navegar nas retinas (simetrias, assimetrias), um caminho cuja estrada sobe, lenta, para depois, como na música, descer, envolver-se, transformar-se. Para percebermos a chuva, o relâmpago, nossas mãos postas no engenhar o humano. E o que nos acorda, em cada manhã, mais que o susto ou a necessidade, o que deveria ser? Fechar os olhos. Ouvir as sibilas (descobri-las), como quem, relva sob relva, solo sob solo, desencava o canto, aquele da súmula dos olhares.



....................................
#LEIA TAMBÉM:
* SECRETOS ALFABETOS [Webston Moura]
* O OURO RÚTILO DOS CÍRCULOS SIBILINOS (Webston Moura)
* LÍRICAS ESTELARES, ACRIMÔNIA E OLOR DE MADEIRA VERDE (Webston Moura)
* VOLTAR AO SOPRO [Webston Moura]
* BREVE MAPA DE UMA TERÇA-FEIRA (Webston Moura)



Webston Moura é o editor dos blogs Arcanos Grávidos, além de co-editor de Kaya [revista de atitudes literárias]. Cearense de Morada Nova, mora em Russas desde 1988. Por formação, é Tecnólogo de Frutos Tropicais. Poeta, é autor de Encontros Imprecisos: insinuações poéticas (Imprece, 2006). Com o poema "A pronúncia da minha língua pela tua flor" e o conto "A vida carpida entre os dentes" participou da revista PARA MAMÍFEROS (Fortaleza, Nº 3, Ano 3, 2011). Com o poema "Enquanto o muçambê delira a meus olhos" participou da Revista do Instituto Cultural do Oeste Potiguar - ICOP (Nº 16, setembro de 2012). Teve ainda poema publicado no projeto Trânsito de Leituras. Aprecia teatro, desenho, boa música, além de questões ligadas a temas como meio ambiente, sustentabilidade, dentre outros. Colaborou tecnicamente com o blog Literatura sem fronteiras.


Postagem em destaque

INSINUAÇÃO [Webston Moura]

Tempus fugit. (Acrílico sobre lienzo. 1992) - Ángel Hernansáez Boa ventura – Abrir a carta, de pouco em pouco, que seu engenho ...